De todas as danças que integram o Ciclo Natalino é o Pastoril a que eu mais gosto, mais precisamente a Lapinha, onde tantas vezes dancei na minha infância, ora como pastora, ora como mestra do "corão encarnado" e até como borboleta, personagem para mim inesquecível. Em Natal dos anos 50/60 os grupos de pastoril se apresentavam em palanques em diferentes bairros da cidade. No interior do Convento Santo Antônio ou nos degraus da Igreja de Santos Reis a "Lapinha" encantava a todos com seu caráter mais religioso. Naquela época eu não sabia fazer a diferença entre o Pastoril e a Lapinha - pra mim era tudo a mesma coisa. Não entendia, portanto, porque meu pai consentia que eu dançasse na Lapinha e nunca num pastoril.
PASTORIL X LAPINHA
O Auto do Pastoril e o Auto da Lapinha tem a mesma origem e sempre foram encenados por jovens e meninas que, paramentadas de pastoras, celebram o nascimento do menino Deus. Com o passar dos anos o pastoril foi se adaptando às características culturais de cada cidade ou lugarejo onde era encenado e assumiu um caráter mais profano. Os que continuaram se apresentando nas igrejas, escolas e outras instituições, permaneceram com esse caráter de dança sagrada. A coregrafia, e alguns personagens continuam iguais nas duas encenações. Mas enquanto a Lapinha é composta por crianças e meninas moças com vestes comportadas e uma única presença masculina que é a do pastor, o Pastoril vem com um figurino mais ousado, com saias acima do joelho e um palhaço que faz gestos maliciosos com sua bengala, canta e faz loas com segundas intenções.
Nas minhas lembranças afetivas, as músicas do pastoril/lapinha, estão na sua grande maioria, guardadas de cor. Me emociona lembrar da linda coregrafia, executada em cima do palanque todo enfeitado, da participação vibrante das torcidas dos cordões azul e encarnado. O pastoril deixavam as nossas noites, principalmente, na véspera do Natal, antes da missa do Galo e no dia 31 de dezembro, em clima de festa e de muita alegria. Tempos felizes aqueles!
Luis da Câmara Cascudo assim define o Pastoril: são cantos ou louvações que, em outras épocas, eram entoados, diante do presépio, nas noites de Natal, e mais especialmente na véspera, para aguardar a celebração da Missa do Galo. Representavam a visita dos pastores ao estábulo de Belém, com ofertas, louvores e pedidos de benção,
A ORIGEM DO PASTORIL
O Pastoril nasceu dos dramas litúrgicos da Natividade, representados nas igrejas, nos quais se assistia a todos os episódios que envolvia o nascimento de Jesus.
O auto do Pastoril com sucessão de cenas, falas, cantos e danças, surgiu em Portugal, e, dessa forma foi introduzido no Brasil, sendo hoje dispensável a presença de imagens e presépios. A existência do nome de “cordão” é devida à influência poderosa da música profana carnavalesca. Quanto à denominação de cordão azul e encarnado é justificável, por serem as cores votivas de Nosso Senhor e Nossa Senhora.
O auto do Pastoril com sucessão de cenas, falas, cantos e danças, surgiu em Portugal, e, dessa forma foi introduzido no Brasil, sendo hoje dispensável a presença de imagens e presépios. A existência do nome de “cordão” é devida à influência poderosa da música profana carnavalesca. Quanto à denominação de cordão azul e encarnado é justificável, por serem as cores votivas de Nosso Senhor e Nossa Senhora.
Segundo Pereira da Costa, o aparecimento do presépio vem, dos fins do século XVI, no Convento dos Franciscanos de Olinda, por iniciativa de Frei Gaspar de Santo Antônio, primeiro religioso a receber hábito no Brasil. Já Fernão Cardim, o jesuíta, fala de um documento que comprova a representação do pastoril no dia de Reis de 1584. É curioso observar que nos séculos XVII e XVIII, os pesquisadores não encontram referências importantes sobre o pastoril na Colônia, mas já no século XIX, concordam que houve abundância dos bailes pastoris no Nordeste, notadamente nos estados de Pernambuco e Bahia.
O Pastoril teve seu grande momento nos primeiros vinte e cinco anos do século XX, sendo representado por iniciativa de leigos, mas sem perder dua ligação com festas religiosas, principalmente do Ciclo Natalino.
No meio dos dois cordões, surge a Diana, guia do grupo, é um misto dos dois cordões, isto é, sua veste é azul e encarnado. A Mestra e a Contramestra dos cordões vestem-se igualmente. Todas conduzem instrumentos rítmicos, como pandeiros ou outros tipos semelhantes, fabricados pelos próprios elementos. Os Pastores e Pastoras que tomam parte nos diversos diálogos apresentam-se com uma bengala, símbolo dos pastores.
No Pastoril profano a figura do Velho, espécie de bufão, de palhaço de circo, comanda as jornadas (canto das pastoras) e se esparrama em piadas, numa atuação que ressalta o histrionismo, a improvisação. Seus diálogos com as pastoras são cheios de duplo sentido e, com o público, puxa discussão, brincadeiras, faz trejeitos e canta canções adaptadas às suas necessidades.
A BORBOLETA - A CIGANA - O ANJO
A representação da borboleta, da cigana, do pastor e do Anjo Gabriel é comum entre os grupos e simbolizam as figuras que as pastoras vão encontrando no caminho até Belém. Algumas para ajudá-las e outras, para atrapalhar a marcha. As Ciganas – símbolo do mistério e da fatalidade correspondem às antíteses do mal e do bem. A Borboleta é o personagem mais puro e mais belo. Representa a própria natureza. Também desfilam o Anjo, a Estrela do Norte, o Cruzeiro do Sul, além de outras figuras que aparecem por influência do local, da região.
Em alguns municípios do Rio Grande do Norte os pastoris estão ativos, sejam em suas representações de cunho religioso ou profano. Podemos encontrar essa brincadeira nos Municípios de de Natal ( Praia de Ponta Negra e Bairro do Bom Pastor) São Gonçalo do Amarante, Ceará-Mirim, Maxaranguape, Pedro Velho, Nísia Floresta, Tibau do Sul, São Paulo do Potengi e em Parnamirim (Praia de Pirangi) entre outros, alternando-se em fases de apogeu e de declínio.
O Pastoril chegou a São Gonçalo do Amarante pelas mãos das famílias portuguesas advindas de Pernambuco. Oriundos dos dramas litúrgicos representados nas Igrejas, aos poucos desvinculou-se dessa característica natalina, tornando-se o folguedo de maior aceitação no Município. A partir de 2005 voltou a tomar força com a oficialização do Pastoril de Dona Joaquina.O grupo reúne descendentes e simpatizantes dos antigos grupos de pastoris da cidade, resgatando e mantendo a tradição cultural da Lapinha e do Pastoril na região. O grupo potiguar, coordenado pela professora Séphora Bezerra, formado por 18 pastorinhas, com idades entre 12 e 21 anos, é hoje uma das referências da cultura popular do estado do Rio Grande do Norte.
FOTOS:
- Acervo do Pastoril de Dona Joaquina - São Gonçalo do Amarante/RN -Facebook.
- Imagens Google
-Edição de Imagens: Programa Pic Monkey
VÍDEOS:
PERSONAGENS DO AUTO DO PASTORIL
Em todo Nordeste, os autos Pastoris são grupos de pastoras, divididos em duas filas paralelas: uma chamada Cordão Azul e outra Cordão Encarnado, conduzindo cada elemento, um pandeiro colorido.
As Pastorinhas são as responsáveis pelo desenvolvimento do tema, transformando sua atuação em verdadeiros entreatos do pastoril, isto porque entre uma e outra cena, elas aparecem com o objetivo de estabelecer ligações entre as jornadas e, ao mesmo tempo, animar os espectadores com suas músicas, coros e evoluções. Vestem-se à caráter,
As Pastorinhas são as responsáveis pelo desenvolvimento do tema, transformando sua atuação em verdadeiros entreatos do pastoril, isto porque entre uma e outra cena, elas aparecem com o objetivo de estabelecer ligações entre as jornadas e, ao mesmo tempo, animar os espectadores com suas músicas, coros e evoluções. Vestem-se à caráter,
distribuídas nas cores azul e encarnado, de acordo com o cordão ao qual pertencem. É comum usarem na cabeça, ao invés de lenço, diademas floridos ou feitos em cartolina com areia prateada. Usam colares reluzentes e alpargatas.
A DIANA - A MESTRA DO CORDÃO ENCARNADO E
A CONTRA MESTRA DO CORDÃO AZUL
No meio dos dois cordões, surge a Diana, guia do grupo, é um misto dos dois cordões, isto é, sua veste é azul e encarnado. A Mestra e a Contramestra dos cordões vestem-se igualmente. Todas conduzem instrumentos rítmicos, como pandeiros ou outros tipos semelhantes, fabricados pelos próprios elementos. Os Pastores e Pastoras que tomam parte nos diversos diálogos apresentam-se com uma bengala, símbolo dos pastores.
O VELHO
No Pastoril profano a figura do Velho, espécie de bufão, de palhaço de circo, comanda as jornadas (canto das pastoras) e se esparrama em piadas, numa atuação que ressalta o histrionismo, a improvisação. Seus diálogos com as pastoras são cheios de duplo sentido e, com o público, puxa discussão, brincadeiras, faz trejeitos e canta canções adaptadas às suas necessidades.
A representação da borboleta, da cigana, do pastor e do Anjo Gabriel é comum entre os grupos e simbolizam as figuras que as pastoras vão encontrando no caminho até Belém. Algumas para ajudá-las e outras, para atrapalhar a marcha. As Ciganas – símbolo do mistério e da fatalidade correspondem às antíteses do mal e do bem. A Borboleta é o personagem mais puro e mais belo. Representa a própria natureza. Também desfilam o Anjo, a Estrela do Norte, o Cruzeiro do Sul, além de outras figuras que aparecem por influência do local, da região.
O PASTORIL NO RIO GRANDE DO NORTE
Em alguns municípios do Rio Grande do Norte os pastoris estão ativos, sejam em suas representações de cunho religioso ou profano. Podemos encontrar essa brincadeira nos Municípios de de Natal ( Praia de Ponta Negra e Bairro do Bom Pastor) São Gonçalo do Amarante, Ceará-Mirim, Maxaranguape, Pedro Velho, Nísia Floresta, Tibau do Sul, São Paulo do Potengi e em Parnamirim (Praia de Pirangi) entre outros, alternando-se em fases de apogeu e de declínio.
Mas é em São Gonçalo do Amarante, uma terra de brincantes, que o pastoril ganhou forças ao longo dos anos. A paixão pelo auto se estende desde a época em que foi trazido pelas mãos das famílias portuguesas, advindas de Pernambuco, que fundaram o município até os dias de hoje. O Pastoril de dona Joaquina é um exemplo disso.
O PASTORIL DE DONA JOAQUINA
O Pastoril chegou a São Gonçalo do Amarante pelas mãos das famílias portuguesas advindas de Pernambuco. Oriundos dos dramas litúrgicos representados nas Igrejas, aos poucos desvinculou-se dessa característica natalina, tornando-se o folguedo de maior aceitação no Município. A partir de 2005 voltou a tomar força com a oficialização do Pastoril de Dona Joaquina.O grupo reúne descendentes e simpatizantes dos antigos grupos de pastoris da cidade, resgatando e mantendo a tradição cultural da Lapinha e do Pastoril na região. O grupo potiguar, coordenado pela professora Séphora Bezerra, formado por 18 pastorinhas, com idades entre 12 e 21 anos, é hoje uma das referências da cultura popular do estado do Rio Grande do Norte.
PASTORIL DE DONA JOAQUINA - ORGULHO DA CULTURA POTIGUAR
FONTES:
- Dicionário do Folclore Brasileiro - Câmara Cascudo - Ediouro Publicações - RJ
- Danças Folclóricas do Rio Grande do Norte - Deífilo Gurgel - 6ª Edição - Gráfica Sul Editora n- Natal/RN - 2003
- Sites:
- http://www.caestamosnos.org/Dia_do_Nordestino_Brasileiro/Bloco3.html
- http://www.pastorildonajoaquina.com/
- http://pontodoboivivo.blogspot.com.br/2012/01/pastoril-beleza-e-leveza-de-um-auto.html
- http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?-Valdemar Valente
- http://www.recifw.pe.gov.br/especiais/brincantes/8a.html
- http://www.ifce.edu.br/miraira/Patrimonio/FolguedosBailados/Pastoril/Pastoril-LMFC.pdf
- Acervo do Pastoril de Dona Joaquina - São Gonçalo do Amarante/RN -Facebook.
- Imagens Google
-Edição de Imagens: Programa Pic Monkey
VÍDEOS:
- Borboleta Pequenina - música interpretada pelo Pastoril Nossa Senhora da Conceição - Mar Vemelho/AL e por Marisa Monte. Postada no You Tube por "hotecna71 em 28/02¹2005
- Pastoril - Postado no You Tube por Marciel Dantas (@mdimagens) e o Mundaú Notícias em 27/01/2012.
- Pastoril de Dona Joaquina - apresentação na 16ª FIART- Postado no You Tube por SBEZERRA 76.
- IDRN - PASTORIL - Postado no You Tube pela TV AssembléiaRN2.
ResponderExcluirSaudade do pastoril... Lembro que quando tinha festa na Limpa, Santos Reis, tinha o cordão das pastorinhas vermelho e o azul. Tinha também o Fandango... Bons tempos!...
João Manoel de Siqueira
o pastoril necessita ser resgatado. Amei o trabalho realizado . Parabéns a todos os envolvidos.
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