As danças folclóricas do Rio Grande do Norte sempre despertaram a atenção e elogios pelos estudiosos do folclore brasileiro. Câmara Cascudo, Mário de Andrade, Théo Brandão , Ascenço Fereira, Manoel Rodrigues de Melo, Hélio Galvão, Oswaldo Lamartine e, mais recentemente Deífilo Gurgel, deixaram um rico acervo sobre a beleza de nossas danças folclóricas. Em 1954, numa entrevista concedida ao folclorista/jornalista Veríssimo de Melo, Ascenço Ferreira afirmava: "O que vi em Natal, pode ser exibido em qualquer palco do mundo".
O mais importante dos autos populares, é definido por Câmara Cascudo, como “formas teatrais de enredo popular, com bailados e cantos, tratando de assunto religioso ou profano, representado no ciclo das festas do Natal”, geralmente encerrando as apresentações no dia de Santos Reis.
Nos últimos anos porém, com o advento dos meios de comunicação de massa, cinema, rádio e televisão, o povo , não só como expectador, mas também como participante, foi perdendo o interesse por essas danças, e hoje elas sobrevivem, à custa de sacrifícios de alguns grupos de pessoas que insistem em preservá-las.
ORIGEM DO BUMBA-MEU-BOI
O primeiro registro do bumba-meu-boi ou boi-de-reis aparece no jornal O Carapuceiro, do padre Miguel do Sacramento de Lopes Gama, em 1840, mas sua origem exata, como muita coisa no folclore,é desconhecida. “Brincadeiras de boi sempre existiram. O animal era considerado sagrado por muitas civilizações”, afirma o folclorista Deífilo Gurgel.
Bumba-meu-boi é o reisado – festa realizada em homenagem ao Reis Magos – mais popular no Nordeste, considerado o mais significativo, tanto do ponto de vista estético como social. Apresentado no Nordeste durante o ciclo do Natal e festejado na Amazônia em junho, na época de São João, é o testemunho mais vivo do chamado ciclo do boi. Surgiu provavelmente no Nordeste, nas últimas décadas do século XVIII, no litoral, nos engenhos de açúcar e nas fazendas de gado, penetrando no interior e espalhando-se a seguir pelo Brasil Central.
É considerado manifestação fundamentalmente nacional, desde suas características, tipos e costumes, até os textos e as músicas. O Bumba-meu-boi é em geral apresentado ao ar livre, relembrando manifestações semelhantes da península Ibérica – os touros de Canastra e tourinhas do Minho, por exemplo – de onde se supõe venham suas raízes mais remotas; essa suposição é confirmada por Câmara Cascudo. Segundo ele, nas tourinhas, um rapaz se vestia numa armação de vime, cobertas com pano e saíam a perseguir os outros, por algazarra. O costume pode ter imigrado, sendo posteriormente modificado em terras brasileiras.
Em nenhum outro país é encontrado um folguedo com características semelhantes. Gurgel, em seu Manual do Boi Calemba, associa o boi ainda aos ternos e ranchos, grupos que no período natalino iam de casa em casa, visitando conhecidos e sendo recebidos com festas e banquetes, celebrando o nascimento de Jesus Cristo e as qualidades dos anfitriões com cantorias e danças.
A HISTÓRIA E OS PERSONAGENS PRINCIPAIS
O boi consiste numa armação de cipó ou madeira, coberta com tecido – geralmente chita, com uma cabeça de papelão ou caveira de animal. Em Santa Catarina a cabeça é feita de um mamão, daí o nome de Boi-de-mamão.
No Bumba-meu-boi o tema principal é a morte e ressurreição de um boi. O enredo básico conta a história de um boi de estimação de um fazendeiro rico que é morto pelo empregado negro, que mata o boi para atender ao pedido de sua esposa grávida e sente desejo de comer a lÍngua do boi. Descoberto como o autor do crime o marido confessa o que fez e é levado preso. Ma,s por intermédio da magia praticada por um curandeiro indígena, o boi ressucita. O marido é perdoado e tudo termina bem, dando motivo para os cantos, as danças e a alegria.
Com uma bonita coreografia ao som da Rabeca, cantam cantigas antigas e, vestidos com um figurino de fitas coloridas e espelhos, proporcionando ao expectador um belo e interessante espetáculo teatral.
Com uma bonita coreografia ao som da Rabeca, cantam cantigas antigas e, vestidos com um figurino de fitas coloridas e espelhos, proporcionando ao expectador um belo e interessante espetáculo teatral.
Os personagens são divididos em três categorias: humanos, animais e fantásticos. Os humanos incluem os cômicos (Mateus, Birico e Catirina), as cantadeiras ou tiradeiras do boi, soldados, índios, damas, galantes e o mestre. De acordo com o lugar, os personagens podem mudar de nome. Na Paraíba, o mestre é chamado de capitão do cavalo-marinho. O Mateus é o Chico, ou Pai Francisco, nos bois do Norte. O Birico pode também ser Bastião ou Fidélis. Os animais e fantásticos são criaturas que se apresentam antes da entrada do boi. Surgem figuras como o bode, o urubu, a ema, a burrinha e outras criaturas sobrenaturais, como o guriabá, jaraguá, ala ursa, gigante, Cão (o diabo mesmo, não o animal), o morto-vivo. Outras figuras satirizam profissionais como o Doutor, o Padre e o Fiscal.
O BUMBA-MEU BOI NOS DIVERSOS ESTADOS BRASILEIROS
Boi de Reis, Bumba-Meu-Boi, Boi-Bumbá, Boi-de-Mamão Boi Calemba, Boi-Surubim, Boi Zumbi, Dança do Boi, Boi-de-Mourão, Bumba ou mesmo Boizinho são alguns nomes desse folguedo, encontrados no país. Ao espalhar-se pelas cidades brasileiras a brincadeira adquire ritmos, indumentárias, adereços, insrrumentos e formas diferentes de apresentação.
Para o folclorista Deífilo Gurgel o Boi do Maranhão é muito rico, autêntico. Em Pernambuco, há uma ênfase muito grande na interpretação, tem pouca cantoria e dança. No Rio Grande do Norte, impressiona o apego do homem do povo com a tradição. Apesar das indumentárias modestas, nas cantigas do Boi Calemba é possível identificar longos trechos dos romances, que datam de fins do século XVIII".
BOI CALEMBA - A VERSÃO POTIGUAR DO BUMBA-MEU-BOI
A expressão Boi Calemba, foi registrada por Mário de Andrade, em sua viagem a Natal, em 1929. O termo foi criado com o intuito de diferenciar o Boi de Reis do Rio Grande do Norte de outros grupos dos estados brasileiros.
O Boi Calemba apresenta-se normalmente com dezessete figurantes, incluídos neste número os músicos do conjunto. Os integrantes do Boi Calemba são classificados em dois grupos: Os "Enfeitados" e os "Mascarados".
O grupo dos Enfeitados é composto pelo "Mestre" da brincadeira, pelos "Galantes" ( em número de seis ou oito) e pela "Damas" ( tradicionalmente apresentados por dois garotos travestidos de mulher). Esse grupo é responsável pelo lado sério do espetáculo, cantando as cantigas: as louvações, saudações, benditos e baianos. Entre uma música e outra, dançam animados números coreografados ao som da rabeca.
O grupo dos Enfeitados é composto pelo "Mestre" da brincadeira, pelos "Galantes" ( em número de seis ou oito) e pela "Damas" ( tradicionalmente apresentados por dois garotos travestidos de mulher). Esse grupo é responsável pelo lado sério do espetáculo, cantando as cantigas: as louvações, saudações, benditos e baianos. Entre uma música e outra, dançam animados números coreografados ao som da rabeca.
O grupo dos "Mascarados" fazem a parte cômica do espetáculo. São três: Mateus, Birico e Catarina. Apresentam=se trajando roupas surradas, o rosto besuntado de tisna, evocando sua condição de vaqueiros-escravos da saga da pecuária Nordestina. Declamam loas, fazem pantomimas e paródias com os Galantes.
Outras figuras integram a apresentação do Boi Calemba como a Burrinha, o Bode, o Gigante (cavalo marinho), o Jaraguá, além do Boi, principal figura do espetáculo. A orquestra é formada por uma rabeca, um pandeiro e mais um instrumento de corda.
PRINCIPAIS GRUPOS DE BOI CALEMBA DO RN
As cores, os sons e os movimentos do Boi de Reis, apesar de todas as dificuldades. continuam vivos na memória dos norte-rio-grandenses, sejam eles brincantes, espectadores ou ouvintes dos pais e avós contadores de história. Algumas comunidades no estado ainda têm o privilégio de contar com a presença deste folguedo: em Nísia Floresta, em Santa Cruz, em Pedro Velho, em Extremoz, além de Natal.
Três grupos, no entanto, tem mais em evidência no estado nesses ultimos anos: o Boi Calemba Pintadinho em São Gonçalo do Amarante, Boi Calemba do Mestre Elpídio em Parnamirim e o Boi Calemba do Mestre Manoel Marinheiro em Felipe Camarão (os dois últimos mestres já falecidos).
FONTES:
- Luiz da Câmara Cascudo - Dicionário do Folclore Brasileiro - Ediouro Pulicações- São Paulo
- Deífilo Gurgel - Danças Folclóricas do Rio Grande do Norte - Gráfica Sul Editora - Natal/RN - 2003
- Deífilo Gurgel - Espaço e tempo do folclore Potiguar -
- Departamento Estadual de Imprensa - Natal/RN - 2001
- Sites:
- http://boidereisrn.blogspot.com.br/2010
- http://nataldeontem.blogspot.com.br/2009
- http://pontodoboivivo.blogspot.com.br/2010
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Bumba_meu_boi
FOTOS:
- Acervo pessoal de Alex Gurgel
- Acervo pessoal de Canindé Soares
- Acervo do Projeto Conexão Felipe Camarão
- Acervo do Site Ponto do Boi Vivo
- Acervo de Mestre Eudócio, artesão do Alto de Moura- Caruaru/PE
- Outras Imagens Google não identificadas
EDIÇÃO DE FOTOS :
- Site Pic Monkey
- Site Scrapee Net
Gostaria de pedir o favor, se alguém conhecer letras de músicas que são típicas do BOI CALEMBA, relatem e se refiram a esse movimento usando o seu nome, que enviem por gentileza para o meu imail. camillamainavaz@gmail.com - Aos que colaborarem, meu muito obrigado. Essa pesquisa é para desenvolver um trabalho de cultura do RN.
ResponderExcluirCamila, não sei onde vc mora, mas em Natal, existe um projeto chamado "Conexão Felipe Camarão" no bairro de Felipe Camarão, cuja base é o Auto do Boi de Reis domestre Marinho Marinheiro. O mestre já faleceu, mas sua mulher dona Isa sabe tudo de boi. Marinho Marinheiro chegou a gravar um CD com músicas do Auto. Vá lá, converse com dona Isa, ela é muito acessivel e não se recusará a dar as informações. Na cidade de São Gonçalo do Amarante tb tem um grupo excelente: o Boi Pintadinho do Mestre Dedé.Em Parnamirim tinha o excelente boi do mestreElpídeo que tb faleceu, não sei quem está dando continuidade.
ResponderExcluirEu não tenho as músicas, mas se vc puder ir as fontes fatá um rico trabalho de pesquisa.
Um grande abraço - Arilza Soares / Vento Nordeste
*Outras Imagens Google não identificadas-Leia-se Mestre Manuel Eudócio,artesão do Alto Do Moura-CARUARU-PE(Mateus,Catirina,Cavalo-Marinho e Jaraguá.
ResponderExcluirMuito obrigada José Galdino - Colocarei os créditos agora mesmo,
ExcluirOla meu irmão Galdino. grande defensor pernambucano.e parsbéns poi isso. Eu entendi que a solicitaçao foi qto os grupos do Rn. A Arilza e uma grande divulgadora da cultura potiguar como voce. Abs no coraçao de todos
ResponderExcluireu gostei muinto disso
ResponderExcluirAmo o povo do NE, nasci em SP por distração da cegonha
ResponderExcluirParabéns pela ricas informações, nossa cultura popular agradece. Sou Gilliard Allad, Coreógrafo e produtor cultural.
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