O Rio Grande do Norte perdeu ontem um dos seus mais ilustres filhos, um grande representante da nossa Cultura. Com grande parte da sua vida dedicada as pesquisas das tradições culturais do nosso povo, o Professor, Poeta, e Escritor, Deífilo Gurgel é considerado um dos maiores folcloristas do nosso país.
Natural do Município de Areia Branca, Deífilo Gurgel morava em Natal desde 1944 quando aqui chegou com 18 anos de idade. Aos 25 casou-se com Dona Zoraide, companheira de sempre, com quem teve nove filhos. Sua paixão pelo folclore começou aos 44 anos. Relembrando sua história de vida disse:" Na minha infância, na minha terra, lá em Areia Branca, havia alguns grupos folclóricos, dos quais eu tive a oportunidade de assistir o Bumba meu Boi e o Pastoril. Então, eu só me interessava pelo divertimento e não imaginava que aquilo fosse tão importante".
O PROFESSOR DEÍFILO
Lecionou durante 12 anos.Segundo ele, não gostava de ser professor." Me empurraram para lá, como um boi vai para o matadouro. Mas foi ótimo porque, além das pesquisas de campo que eu realizava, eu tinha que estudar o assunto para transmitir aos meus alunos. Eu aproveitei a condição de professor para realizar uma importante pesquisa que durou 10 anos, de 1985 a 1995, denominada Romanceiro Potiguar. Com isso eu conheci todo o Rio Grande do Norte. Nela eu estudei os romances ibéricos, que vieram de Portugal para cá ,e os que foram criados no país. Eu descobri coisas que ninguém podia imaginar em uma pesquisa desse tipo."
O PESQUISADOR
Ao longo dos anos o Professor Deífilo promoveu importantes descobertas para o Folclore Nacional. Vários acontecimentos marcaram a vida desse pesquisador. O encontro com o embolador de coco, Chico Antônio "descoberto" por Mário de Andrade, na década de vinte, foi um desses momentos.
Outro grande momento foi a descoberta da maior romanceira do Brasil D.Militana, em São Gonçalo do Amarante. Antes de chegar até ela, o escritor conheceu seu pai, na década de 70, quando realizava pesquisas sobre danças folclóricas do Estado.
O convívio com Câmara Cascudo foi outro momento importante na vida de Deífilo." Eu toda vida fui muito inibido e tinha um relacionamento muito difícil com outras pessoas. Mas mesmo assim, eu convivi um tanto com Cascudo e ele era uma pessoa espetacular. Quando eu lecionei Folclore Brasileiro na Universidade, levei várias turmas para conversarem com ele e meus alunos saiam de lá deslumbrados."
BIBLIOGRAFIA
I - O POETA
- Cais da Ausência
- Os Dias e as Noites
- 7 Sonetos do Rio e Outros Poemas
- Os Bens Aventurados
II - O FOLCLORISTA
- Danças Folclóricas do Rio Grande do Norte
- João Redondo - Teatros de bonecos do Nordeste
- Romanceiro de Alcaçuz
- Manual do boi Calemba
- Espaço e tempo do Folclore Potiguar
Publicou ainda "Areia Branca - A Terra da Gente" - um ensaio sobre a sua cidade natal e "São Gonçalo - O País do Folclore" sobre as tradições culturais do município de São Gonçalo do Amarante.
Deífilo morreu sem ver publicada sua obra literária mais importante: O Romanceiro Potiguar,fruto de pesquisa de dez anos coletando romances medievais pelos rincões e sertões potiguares.O livro já editado pela Fundação José Augusto seria lançado após o carnaval.
SOBRE DEÍFILO GURGEL
"Eis o mérito do Prof. Deífilo: buscou as fontes primárias. Palmilhou os caminhos do Rio Grande do Norte de máquina fotográfica e gravador a tiracolo, ouvindo gente, batendo em portas e sentando-se nos terreiros das casas humildes para ouvir contarem os fragmentos desbotados da tradição popular".
Iapery Araújo-Poeta e Membro da Academia
Norte-Rio-Grandense de Letras
DEÍFILO POR ELE MESMO
Fragmentos de uma entrevista dada ao Jornal "O Poti" em 14/08/2011
- Esse livro "O Romanceiro" será o seu último?
- Penso na segunda edição do meu livro de poemas, acrescentando alguns inéditos. E também na segunda edição do Espaço e Tempo do Folclore Potiguar.De repente pela Fundação José Augusto.
- E rotina? Faz exercício?
- Faço exercícios no quarto mesmo, quando acordo: uns exercícios respiratórios, umas flexões nas pernas, nos braços. Inclusive tenho uma bursite no braço - ô nome feio da p*...né? (risos).
- E alimentação:conserva os hábitos interioranos?
- Nos tempos de jovem eu fazia compras naquele mercado da Cidade Alta que pegou fogo. Comprava carne de gado, umas costelas com dois dedos de gordura. Eu cortava a gordura, parecia um queijo, aí eu comia pura.Isso me rendeu uma ponte de safena e duas mamárias.Mas foi há dez anos.Desde então nunca mais.Hoje como principalmente frutas.Tenho meus cinquenta e poucos quilos.Mas meu peso nunca passou de 70.
- A velhice é mesmo a melhor idade?
- Fico admirado de estar vivíssimo aos 85 anos. Meu pai morreu com 64 com câncer no pâncreas. Minha mãe morreu com 77 de velhice. E do jeito que estou vivi e estribuchando, vou durar mais um bocado.(risos) São raros os da família com mais de 80. Só meu avô paterno que durou mais de 90 anos, mas era aquela vida no Sertão, né?
- Quais foram os estresses?
- ( Olha para Carlos Gurgel à frente e ri) Foi desobediência. Esses danados ( os filhos)... eu falava o que era certo, mas insistiam em desobedecer. Mas cresci e evolui.Cansei de dizer o que era certo e errado. Não vim ao mundo para julgar mas para tentar entender meus semelhantes. Convencer o outro de que o melhor é o ABC ou América é besteira.
- Qual a maior alegria na vida?
- Nem sei lhe dizer. Sou muito frio, sem muitas expansões pra essas coisas: nem para a alegria, nem para a tristeza. Quando meu pai faleceu, fui ao sepultamento em Mossoró. Os outros filhos choravam, mas eu não não sentia vontade. Com a minha mãe também. Mas quando descobri Zoraide pela primeira vez fiquei emocionado, admirando a beleza dela. As amigas diziam que ela era a mulher mais bonita da cidade .E eu, um provinciano que veio do oco do mundo, iria conquistar? Mas depois de muito assédio, conquistei a rainha.
- E a maior decepção?
- Sou um cara que me acomodo muito com os percalços da vida. Mas o meu primeiro emprego veio quando passei em primeiro lugar entre 120 candidatos no concurso público para cargo de datilógrafo do Ipase. O gerente Jurandir Cerri, viu meu interesse no serviço e fui promovido. Quando Getúlio Vargas foi deposto, o gerente eleito foi Eurico Dutra. Ele Esculhambou o Ipase, quando eu já era delegado lá, e me substituiu por um contínuo do partido político dele. Eu nunca tive partido na vida. Aí fiz uma representação direta para o presidente Alcides Carneiro, da Paraíba. A resposta foi dez dias de suspensão. Não contei conversa e pedi demissão, depois de oito anos no Ipase. Depois fui ser caixa no Banespa, onde passei 17 anos. (nesse período Deífilo se forma em Direito, em 67) Mas lá também pedi para sair. Eu era meio doido nessa época. Eu me vi cinco meses desempregado, casado e com cinco filhos.
- Foi quando a cultura o salvou?
- Eu morava em uma casinha humilde em Areia Preta. Estava sentado em um banquinho próximo à Praia da Jangada conversando com Zoraide sobre a vida, e João Faustino me aparece dizendo que tinha sido nomeado pra Secretário de Cultura na administração de Ubiratan Galvão e me convidou para ser diretor de promoções culturais, ganhando até mais. Não pensei duas vezes.
- Como os trabalhos iniciaram?
- Já era 1970. Djalma Maranhão havia sido deportado há oito anos. No governo dele aconteciam grandes festivais de folclore. Nunca me interessei. Quando fui a trabalhar com João,a mulher do governador Cortez Pereira, Aída Cortez, resolveu promover uma festa natalina com várias apresentações dos grupos tradicionais dos antigos festejos promovidos por Djalma. Chamei o senhor Joaquim Caldas Moreira, braço direito de Djalma naquela época, para arregimentar esses grupos. Quando vi a primeira apresentação, do Boi de Reis de São Gonçalo, veio o meu interesse. Me cerquei de uma biografia razoável e me aprofundei no estudo do folclore.
- E a ligação com a poesia?
- Trazemos do berço. Em Areia Branca eram aquelas águas desaguando no oceano: uma paisagem muito plana. Eu já sentia alguns pluridos poéticos, mas pela pouca idade e falta de orientação, não me arrisquei. Quando eu ia de férias à casa do meu avô em Caraúbas, já com 10 ou 12 anos, ficava encantado com aquela natureza, aquelas serras .Eu ficava na calçada do meu avô olhando aquilo tudo. E lá não passava automóveis, só carros de boi, jumenteiras. E escrevia meus primeiros poemas: " Da esquina da rua do meu avô / eu via o trem de carga do Patu / que passava por trás do sítio de seu Joaquim Amâncio / lançando na calma tarde sertaneja / o seu apito longo e dolorido / e lançava no meu coração doente de menino / as primeiras sementes de poesia" Muita coisa da minha poesia, até hoje, são evocações de minha época de menino.
FONTES:
Jornal "O Poti" - natal RN
Jornal "Tribuna do Norte" - Natal-RN
FOTOS:
Imagens Google
Edição de fotos: Programa Pic-Nic - Yahoo/BR
Jornal "O Poti" - natal RN
Jornal "Tribuna do Norte" - Natal-RN
FOTOS:
Imagens Google
Edição de fotos: Programa Pic-Nic - Yahoo/BR
Muito bom o Blog.
ResponderExcluirTive a honra de conhece-la e travar rapidissimo dialogo com você no Sebo Vermelho, de Abimael Silva.
saudações
Oswaldo
Quem foram os pais de Joaquim caldas moreira e bis avós dele tbm
ResponderExcluirSou Jorge Luiz Moreira da Silva Neto de Joaquim caldas moreira .gostaria de saber sobre a árvores geológica dele.
ResponderExcluirSou Felipe, trineto de Joaquim Caldas Moreira.
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