Sou carnavalesca por natureza, e ainda em clima de carnaval quero continuar minhas buscas por esse universo, relembrar um pouco os Carnavais da minha infância, impregnados de papangus e dos blocos de sujo com seus brincantes batendo nas latas e cantado pelas ruas do bairro: "Olha o bloco de sujo / vai batendo na lata / alegria barata / carnaval é assim / bate, bate,bate, bate na lata / bate bate, bate, bate na lata / bate, bate, bate, se não tem tamborim (bis) carnaval é assim". Lembro do bloco fundado pelos meus irmãos e amigos da vizinhança, " O Bafo do Gato" parodiando o grande "Bafo da Onça" do carnaval carioca.Os gatos da redondeza que se cuidassem pois um mês antes do carnaval não ficava um - viravam tamborins. Coitados dos gatos! E o bloco desfilava animado ao som das latas, dos tamborins de couro de gato e da música : Nessa onda que eu vou / Olha a onda iaiá / É o bafo do gato / que acabou de chegar ... e concluíam: é o bafo do gato / Que eu trago guardado no meu coração / Oba, oba, oba- ( Na marchinha original leia-se "Bafo da Onça ao invés de "Bafo do Gato).
"Pau na Lata" na Praia da Redinha
Resgate dos antigos carnavais de rua
OS DIVERTIDOS PAPANGUS
É do "papangu" que mais tenho lembranças. Era impossível sair ás ruas da cidade, lá pelos idos dos anos 50, sem se deparar com essa figura curiosa, mascarada, com o corpo todo coberto, andando sozinho ou em bando. Amado e muitas vezes temido, os papangus faziam a festa, ora assustando, ora divertindo, num misto de palhaço e bicho papão. Na minha rua os papangus eram pessoas conhecidas, geralmente pais de família, ou avós o que era muito curioso, porque fora do carnaval essas pessoas eram normalmente sisudas. E a meninada, assustadas ou não, saíam atras dos papangus, esses brincantes de indumentária rústica, improvisadores de mímicas e palhaçadas, atraindo as atenções por onde passavam.
Em Natal a figura do Papangu foi aos poucos desaparecendo. Hoje o bloco "Us papangus" tenta resgatar e tirar do ostracismo esse personagem tão marcante no carnaval nordestino. No entanto se adentramos pelo interior do estado, vamos encontrar os papangus fazendo a alegria do carnaval na maioria dos nossos municípios.
BUSCANDO AS ORIGENS
As origens dos papangus no Nordeste datam do século XIX em Pernambuco. Nos primórdios, os papangus ajudavam a organizar as procissões católicas de cinzas.Renan Pimenta Filho escrevendo para a Revista de História Municipal editada em Pernambuco, assim descreve o papangu: "indivíduo que ia na frente da Procissão de Cinzas encarregado de tocar corneta anunciando o cortejo. Vestia uma túnica de tecido escuro, tinha a cabeça e o rosto coberto por um capuz branco com três buracos um na boca e dois nos olhos. Levava um chicote com o qual batia nos moleques que tentavam perseguir o cortejo religioso".
Em 1831, os papangus foram banidos desses eventos, "pois eram vistos com um quê de morte e tirania', diz a escritora potiguar Goimar Dantas autora do livro "Quem tem medo de Papangu?" Com o tempo os papangus reapareceram como brincantes carnavalescos, completamente dissociados das procissões.
Em Pernambuco, a cidade de Bezerros é conhecida como a cidade dos Papangus. De tradição centenária, os foliões de Bezerros tem outra explicação para as origens do papangu. Para eles o "papa-angu nasceu de uma brincadeira de familiares dos senhores de engenhos, que saiam mascarados, mal vestidos, para visitar amigos nas festas de entrudo - antigo carnaval do século dezenove, e comiam angu, comida típica do agreste pernambucano. Daí passaram a ser conhecidos como papa-angu. Há outra versões populares, mas essa é a mais conhecida na cidade.
OUTROS SIGNIFICADOS DA PALAVRA
No Nordeste a palavra Papangu pode ter também outros significados: para uns o termo identifica uma pessoa desajeitada, que se veste mal: para outros uma pessoa desprovida de beleza; mas pode identificar também uma pessoa lerda, abobalhada.
FONTES:
- Publicações do Diário de Natal sobre o Carnaval
- Site de divulgação o carnaval de Bezerros- Pernambuco
- Site de divulgação do livro "Quem tem medo de Papangu?" da escritora potiguar Goimar Dantas´
- Artigo do Professor Renan Pimenta Filho, publicado na Revista de História Municipal - Pernambuco
FOTOS
- Imagens Google
- Edição de fotos: Programa Pic-Nic - Yahoo/BR
Essa postagem é dedicada ao meu irmão Ailson pelas lembranças que me vem à memoria do seu bloco "O bafo do gato" -por sua maneira simples, espontânea, animada e irreverente com que brincava o Carnaval.Feliz de quem tem histórias com essas pra contar Ailson!
ResponderExcluirRelembrando as folias da nossa época de criança. Eu tinha um misto de medo e admiração pelos Papangus, as vezes a gente identificava alguem da rua com a fantasia, ai ficava legal e divertido, as vezes a gente lançava água neles, com aqueles frascos de plástico, (esquecí o nome agora), eles faziam gestos ameaçadores, de mentirinha, simulando que íam pegar a gente, corríamos gritando fazendo fuzarca geral..;
ResponderExcluirAinda cheguei a usar lança-perfumes, aquele aroma agradável, logo depois foram proibidos, na época eu não entendia porque
Eduardo de Souza - Rio Branco/Acre Via E-mail